04/12/2010

z) Escrita do Vento

..

O vento escreve com nuvens
coisas que não entende por ventura
quem sabe ler
Em todo o lado
há vento e nuvens
Meu deus o que nos falta compreender


...

y) O Sopro da Criança

..

Ser o sopro leve da criança
que leve o barco de papel
até outro porto da banheira

Esquecer o hálito solene da pobreza
a cachaça gargarejada com caretas e olhos fechados
a fumo de cigarros kentucky
a milagres de Santa Eufémia
como esquecer o medo de ir
ao dentista tirar um dente podre

Ser sopro ou brisa ou vento
capaz de roçar todos os lábios e seios e sexos
dar-lhes loucos orgasmos
estridentes gritos ao fim de tantos carinhos

Ser beijo irreverente num qualquer baile absurdo
em que bailarinos são borboletas e elas zângões

Ser propositadamente eu próprio
leve como um sopro de anteontem
fluindo para um rio futuro-lógico
imensamente água já que de água sou feito

Quando o sonho persegue a harmonia
cai da resma tão pacientemente empilhada

A progressão ego versus fama atropela a justiça

Aqui ao lado o outro moço
não tem banheira mas tem um tanque
e tem muito mais fôlego do que eu


...